sexta-feira, novembro 03, 2006

Há vida para além do número

A mais recente reserva dos adeptos do NÃO em relação à despenalização da IGV é a seguinte:
“A barreira das dez semanas é absolutamente ridícula. E então – perguntam – e se o feto tiver dez semanas e um dia, as mulheres ainda poderão abortar, ou já serão criminosas a deter e condenar?”.

Esta questão é colocada com tal indescritível brilhantismo, com uma tão aguçada astúcia e pertinência, que se nos impõe de forma absolutamente necessária a conclusão de que não se poderá fixar nenhuma data para abortar.

Aliás, faremos mais: começaremos desde já a ampliar esta luminosa descoberta a todas as aplicações possíveis.
Deste modo, não hesitaremos em exigir, desde já:
1) Que seja impedida toda a relação sexual de qualquer espécie entre pessoas que tenham nascido em instantes diferentes, uma vez que a data de início da adolescência – compreendemo-lo agora – não se pode demarcar facilmente e, também, porque a diferença de idades permitida para uma relação entre um adulto e uma criança/adolescente, não pode ser definida com rigor. Só assim podemos prevenir verdadeiramente a pedofilia…
2) Que seja obrigatório o uso de uma cadeirinha no assento do carro, seja qual for o peso de cada um – pois não será artificial a distinção de uma cadeira até 15 quilos e outra para 15 ou mais? Então e se forem 15 quilos e um grama?
3) Que seja imediatamente proibida a prisão de pessoas de qualquer idade, uma vez que, pela mesma ordem de ideias, não se pode definir com rigor o início da vida adulta – e certamente não queremos ver crianças na prisão…
Também por estas razões, será proibida a venda/consumo/frequência/aquisição/celebração de: discotecas, armas de fogo, álcool, carta de condução, filmes de cinema, crédito bancário, casamento, entre outros.

Deste modo, exigimos a remoção imediata e incondicional de qualquer factor quantitativo, pois não aceitamos leis com a artificialidade de uma divisão exacta entre dois números. Empenhados nesta causa, salvaremos o Direito da mesquinhez da exactidão sem sentimento, e reporemos a Verdade que move quem ama a vida.