quarta-feira, janeiro 31, 2007

Assim não, sr. professor

Pela primeira vez, em trinta anos de exposição mediática e de brilhantes comentários políticos, de exemplar imparcialidade, Marcelo Rebelo de Sousa enganou-se.
O erro não é grave – e a personalidades de tão elevada erudição, perdoa-se tudo – mas, ainda assim, fica o reparo.
Trata-se do célebre discurso à nação proferido pelo nosso querido Professor, divulgado no Youtube, e que está a espalhar a mais plena aceitação, por onde quer que passe.
No entanto, Marcelo enganou-se.
De facto, a criação do site – ou chamemos, antes, “movimento” – ”ASSIM NÃO” tem um (pequeníssimo) erro de fabrico: o seu título.
Quando dizemos «assim não», fazemo-lo por estarmos descontentes com algo, por discordarmos, por querermos mudar. Apesar disso, o que se passa neste caso é precisamente o contrário: Marcelo está contente:
Está satisfeito com a lei que temos (quase ninguém é punido pelo crime de aborto!), está feliz com o facto de as mulheres do seu círculo terem a possibilidade de ir a Espanha, alegra-o o facto de não ter de ver (não se dá com essa gentalha) as que são sujeitas às mais degradantes condições de higiene, e felicita-se por ter mais uma oportunidade de brilhar na praça pública.
Lá brilhar, ele brilha; mas sinceramente, Sr. Professor, como se foi enganar no nome do seu movimento?
Nunca duvidei do seu talento e boa vontade, mas, desta vez, enganou-se mesmo. Chame-lhe antes “Assim, Sim”, porque, embora não saiba (ou saberá?), é isso que o Prof. quer dizer.
Acho natural que não possa concordar com a despenalização – afinal, às amigas do Sr. Prof. isso não faz diferença – mais viagem a Espanha, menos viagem a Espanha. Mas corrija o erro de dizer Assim Não, porque assim, como está… Assim Sim, é que o Professor se sente bem.
E se o Professor se sente bem – e nota-se a sua tranquilidade – continue a olhar em frente, porque olhar para o lado preocupa, e a elite deve evitar as rugas.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Acerca da verdade


Aristóteles propôs-nos um critério da verdade como correspondência.
Descartes propôs-nos um critério da verdade como evidência.
G. Frege fala de verdade como redundância…
Todos os grandes autores da filosofia adoptam explícita ou implicitamente um ou outro critério de Verdade.

Neste sentido, Jorge Coroado (árbitro!) já fez saber que ele próprio produziu um inovador critério de Verdade: o da Verdade como pompa.
Assim, o grau de Verdade de uma frase ou proposição é tanto maior, quanto mais pomposa e majestática (essa frase ou proposição) for.

Recém-integrado nas malhas da filosofia, a prudência fá-lo não sistematizar expressa e explicitamente esta novidade uma vez que, no meio futebolístico, o súbito apego ao racional e imaterial não é bem-vindo.
Esta autêntica bomba conceptual lançada pelo juiz, ficou sugerida em conferência de imprensa, embora velada e disfarçada de comentário desportivo. Disse Coroado, quando questionado acerca da escolha de um árbitro: Escolhi este árbitro “por um conjunto de factores que consubstanciam o facto da sua categoria intrínseca, espelhada pela insígnia que ostenta”.

(admiração, encanto, pasmo)

Repare-se no carácter absolutamente verdadeiro desta frase – é absolutamente impossível não deixar de dar o assentimento à escolha daquele árbitro. Veja-se como seria diferente se o nosso herói filosófico tivesse apenas dito: “É um bom árbitro, como todos os outros.”
Se assim tivesse sido, perguntas choveriam em torrente, críticas e injúrias suceder-se-iam, mas assim: Nada.
Na Verdade, a pompa aplicada a esta frase é de tal índole, que apesar de aquela não significar, aparentemente, nada, só podemos, depois de a ouvir, pasmar, emudecer e acatar, com o sentimento profundo de calma e pacificação interior, que só a mais pura e profunda Verdade pode proporcionar.


sexta-feira, novembro 03, 2006

Martins, o Gentil

De como os chatos são intoleráveis

Em primeiro lugar, gostaria de deixar claro que me identifico bastante com o nome do Dr. Gentil Martins. Não só por Martins ser o meu sobrenome, mas também por apreciar a gentileza de trato de uma forma geral.

E, em boa verdade, Gentil Martins é a personalidade mais boazinha da nossa praça: aparece em todos os programas dando o exemplo de um velhinho agradável e bem-educado, de senhor respeitável e honesto, de marido respeitador e pai extremoso, de homem regrado e saudável; um herói estóico, um modelo para todos nós.
No entanto, apesar de não se lhe poder apontar uma só mácula, o Dr. Gentil Martins, eminente cardiologista, não pode ser figura do meu agrado. Perdoe-me essa sumidade, mas não o suporto nem por nada.
É isso mesmo: não quero ser como o Gentil Martins. Não quero ser o Nuno Rogeiro do anti tabagismo, não quero ser o Maestro Vitorino da roda dos alimentos. Não!
E digo-lho a si, Doutor – não vou deixar de fumar por me aparecer em casa, na programação vespertina da televisão, a enumerar-me os malefícios do tabaco.
Não, não vou começar a beber leite Pleno só porque o Dr. mo aconselha num anúncio, com uma voz angelical, enquanto almoço.
Não, Shôtor, nunca vou ter um organismo impecável como o seu, só porque, no Telejornal, Sua Reverência me garante que nunca bebeu um copo, que faz da roda dos alimentos a sua Bíblia Sagrada e que, por isso, é mais feliz do que eu.
E NÃO, não vou começar a fazer jogging todo o santo dia, só porque o Sr., cheio de alegria, me diz que vou viver mais uma mão cheia de anos se o fizer.
Desculpe, Dr., mas não acredito em si.
Não, não vale a pena descrever-me a sua radiante alegria de viver. É escusado, não acredito em si.
Na verdade, nem sequer gosto de si.
Meu Deus, como o detesto.
Largue-me, não me mostre o seu diploma. Não quero ver a sua assinatura por baixo do Juramento de Hipócrates.
Não mo mostre, é claro que o Dr. é contra o aborto. Já o sabia.
Tu és previsível, pá!
Previsível e enfadonho. Oh, como és chato.
Larga-me, não me digas que defendes a vida. A tua vida é tão entediante que dela não esperas mais do que longevidade, extensão.
Ai não sabias que a vida podia ser melhor com um ou dois viciozinhos? Vá, experimenta, meu palerma.
Não, já sei. És muito perfeitinho para ser feliz. És um caso perdido. És um triste. Estás condenado, deixa lá. Puxa o lustro ao teu diploma, opera-te a ti próprio, aparece na TV. Sorri com moderação.
Nunca vais deixar de ser uma sombra. Insuportável e irremediavelmente chato.

Há vida para além do número

A mais recente reserva dos adeptos do NÃO em relação à despenalização da IGV é a seguinte:
“A barreira das dez semanas é absolutamente ridícula. E então – perguntam – e se o feto tiver dez semanas e um dia, as mulheres ainda poderão abortar, ou já serão criminosas a deter e condenar?”.

Esta questão é colocada com tal indescritível brilhantismo, com uma tão aguçada astúcia e pertinência, que se nos impõe de forma absolutamente necessária a conclusão de que não se poderá fixar nenhuma data para abortar.

Aliás, faremos mais: começaremos desde já a ampliar esta luminosa descoberta a todas as aplicações possíveis.
Deste modo, não hesitaremos em exigir, desde já:
1) Que seja impedida toda a relação sexual de qualquer espécie entre pessoas que tenham nascido em instantes diferentes, uma vez que a data de início da adolescência – compreendemo-lo agora – não se pode demarcar facilmente e, também, porque a diferença de idades permitida para uma relação entre um adulto e uma criança/adolescente, não pode ser definida com rigor. Só assim podemos prevenir verdadeiramente a pedofilia…
2) Que seja obrigatório o uso de uma cadeirinha no assento do carro, seja qual for o peso de cada um – pois não será artificial a distinção de uma cadeira até 15 quilos e outra para 15 ou mais? Então e se forem 15 quilos e um grama?
3) Que seja imediatamente proibida a prisão de pessoas de qualquer idade, uma vez que, pela mesma ordem de ideias, não se pode definir com rigor o início da vida adulta – e certamente não queremos ver crianças na prisão…
Também por estas razões, será proibida a venda/consumo/frequência/aquisição/celebração de: discotecas, armas de fogo, álcool, carta de condução, filmes de cinema, crédito bancário, casamento, entre outros.

Deste modo, exigimos a remoção imediata e incondicional de qualquer factor quantitativo, pois não aceitamos leis com a artificialidade de uma divisão exacta entre dois números. Empenhados nesta causa, salvaremos o Direito da mesquinhez da exactidão sem sentimento, e reporemos a Verdade que move quem ama a vida.

sexta-feira, outubro 27, 2006

PSD a la Medieval

Bernardo de Chartres, autor medieval, escreveu uma expressão célebre: “como anões aos ombros de Gigantes”, podemos ver mais e mais longe.
O PSD tentou aplicar este método ao colocar Marques Mendes na sucessão de Santana Lopes.
O método falhou porque uma das premissas não foi cumprida: Santana Lopes não é um gigante.

Governo põe país na linha


É sabido que, durante esta semana, deram à costa centenas de quilos de cocaína nas praias do Norte do país.
Também nestes últimos dias vimos os nossos ministros e o chefe do Governo várias vezes nessa zona, nomeadamente, – e só para referir o Distrito de Braga – em Guimarães, Famalicão e Braga. A afluência ao Norte foi absolutamente inusitada e surpreendente, provocando reacções de vários géneros.
Ora, todos sabemos que sois factos separados e distintos, com uma mera conexão geográfica, não podem ser assumidos como tendo uma relação causal (causa – efeito), sem que para tal existam provas suficientes. O propósito deste artigo será, precisamente, evidenciar esta conexão.

Para demonstrar a tese de que os nossos ministros são incorrigíveis adictos, faremos uso de diversos e indiscutíveis argumentos. Os dois primeiros serão precisos e metodicamente demonstrados; os quatro seguintes serão tão específicos como indesmentíveis.
a) Na passada segunda-feira, o nosso primeiro-ministro José Sócrates fez uma exposição pública na qual foi conduzido a referir o Rendimento Social de Inserção.
Ao tentar pronunciar esta medida – bandeira do Governo PS, disse “Rendimento Mínimo”, coçou a face, disse “Rendimento de Inserção Social” ( engano !), repetiu…
Enfim, todo um espectáculo degradante e lamentável que fez corar todo o país.
Mas pensemos agora: quem é que, habitualmente, se repete, se coça, pronuncia frases sem sentido, gagueja e tem humilhantes faltas de memória?! O ponto começa, assim, a esclarecer-se, mas prossigamos;
b) Por outro lado, todo o executivo tem, constantemente, faltado à sua palavra, dado o dito por não dito e mentido sem escrúpulos: quanto às SCUTs e ao preço da electricidade, quanto ao emprego e aos impostos, entre muitos outros.
Mais uma vez, perguntemo-nos: quem costuma, frequentemente, ludibriar, enganar, mentir, roubar aqueles que maior confiança lhes depositam? A resposta começa a emergir com clareza, mas não fiquemos por aqui.

Quatro estudos de caso demonstrarão de forma inquestionável a natureza verdadeira desta suspeita.
i) Maria de Lurdes Rodrigues (Ministra da Educação) – A sua pose altiva e de superioridade inefável e intangível parece ser efeito de um consumidor regular de um estupefaciente que provoca subidas exponenciais dos níveis de confiança;
ii) Manuel Pinho (Ministro da Economia) – A sua expressão de sofrimento constante só pode ser explicada pela passagem de uma fase do consumo de ilícitos, caracterizada por dores lancinantes e agonia permanente e insuportável;
iii) Isabel Pires de Lima (Ministra da Cultura) – Quem, em pleno uso das suas capacidades, poderia usar tal penteado?!
iv) José Sócrates (Primeiro - Ministro) – A sua expressão robótica e impassível, o seu tom monocórdico e alienado são a confirmação objectiva deste facto que estava ao alcance de todos, mas ao qual preferimos fechar os olhos.
Desta forma, podemos compreender facilmente a máxima prescrição deste executivo: “é preciso que o país aperte o cinto; que se mantenha na LINHA (!!!)!”

De Deus - que Ele existe


As fontes de fertilidade de D. Duarte Pio parecem ter secado.
Há anos que não tem um filho.

sábado, outubro 21, 2006

Há algo maior do que o qual nada pode ser pensado


O título deste post refere-se a uma expressão descritiva de Deus por Santo Anselmo, num argumento que foi altamente divulgado e usado por autores como Espinosa e Descartes (que o apelidavam de “argumento a priori”), e criticado por Kant (que chamou este argumento de “ontológico”).
Aqui, a discussão não será acerca do próprio argumento, pelo que apenas se dará uma breve ideia daquilo em que consiste: segundo Sto Anselmo, se podemos imaginar “algo maior do que o qual nada pode ser pensado”, então, da possibilidade de ser pensado, pode retirar-se a sua existência. Isto porque, segundo este autor medieval, se esse “algo maior do que o qual nada pode ser pensado” não existisse, então poder-se-ia pensar em algo ainda maior. O argumento foi profundamente abalado pela Crítica de Kant, mas sobre isso não nos iremos pronunciar.
O que acontece, é que Nietzsche, entre muito autores contemporâneos, já proclamou bem alto a “morte de Deus”. Ora, esse “algo maior do que o qual nada pode ser pensado” ficou sem nenhuma referência, isto é, sem nenhuma reportação ao real.
Isto é bem grave, como sabemos – todos os bons ateus – e inaugurou uma novíssima crise de valores que se arrasta até aos nossos dias. Arrasta, ou antes, arrastava, porque os nossos caros governantes acabaram com esse gap da nossa alma.
Na verdade, estão lançadas as bases para uma novíssima tabela de valores. Sim, meus senhores, Deus foi substituído pela contenção da despesa pública! Eis a nova entidade auto-reguladora, a primeira das causas, onde residem os paradigmas do bem, do bom e do belo em si mesmos.
Assim se justificam todos os atropelos, toda a Cruzada que depaupera os povos e os trabalhadores. Mas tudo em nome de “algo maior do que o qual nada pode ser pensado”, a contenção da despesa pública!
Assim, também, se justificam o tom messiânico dos governantes e o seu grave silêncio, próprio dos fiéis guardiães do segredo – “a obscuridade própria da brevidade, protege os fiéis guardiães do segredo”

Sobretudo, casaco ou casacão - artigo inaugural

Tal como se indica no próprio nome do blog, este é um espaço para comentar um pouco de tudo e um pouco de nada - considerações acerca do mundo e da vida, do país e do planeta, do ser e das coisas.
Antes de mais, no próprio artigo inaugural e descritivo deste projecto, há que escrever determinadas palavras e expressões-chave que assegurem a sua divulgação. Aqui vão: bush e che guevara, gajas e car accidents, como preparar uma bomba artesanal e coreia do norte, hi5 e msn.
Conscientes do aproveitamento lamentável e escusado que esta atitude revela, pedimos desde já desculpas ao incauto cibernauta.
Na verdade, este deve ser um trabalho sério e árduo, de aguçada e dura crítica social, sem especulações abusivas ou opinião própria - esse cancro pós-moderno - de qualquer monta.
Estão assim lançados os dados para o maior fenómeno cibernético desde que jpp decidiu curar a sua úlcera através da exposição á radioactividade do seu ecrã plasma.